Tratamento

 

    Objectivo dos tratamentos: diminuir o mais possível os sintomas e incapacidades causadas pela doença. Ainda não existem drogas que curem a doença ou travem a sua progressão natural. O que as drogas disponíveis fazem é alterar os sintomas, substituindo os químicos essenciais, como a dopamina, necessária à normal transmissão dos impulsos nervosos e do controlo dos movimentos.

 

    Para avaliar a eficácia de um tratamento, ou a fase da doença, registam-se os principais problemas, os sinais e as incapacidades do doente. A gravidade das incapacidades baseia-se na escala de Hoehn e Yahr, que distingue cinco fases na doença de Parkinson.

 

    Além desta escala, existem ainda outras. Uma escala para registar a lentidão dos movimentos, a rigidez, as tremuras, a marcha, a fala, etc. Esta escala tem 10 itens, classificados de 0 a 3, dando resultados de 0 (nenhuns sinais de incapacidade) a um máximo de 30 (os casos mais graves).

 

Escala de Webster: avalia a generalidade dos sintomas dos doentes de Parkinson.

Escalas de discinesia: usadas para avaliar a gravidade e duração da discinesia e dos movimentos convulsivos e contractivos dos doentes.

 

 

- De acordo com a fase da doença, são prescritas diferentes drogas -

 

    Na doença de Parkinson há uma diminuição da dopamina no cérebro, a qual é essencial, e um excesso de acetilcolina relativamente à dopamina.

    Normalmente, os níveis de acetilcolina e de dopamina estão equilibrados no cérebro. Na doença de Parkinson, as células que produzem dopamina deterioram-se, provocando um nível insuficiente de dopamina e uma relativa sobreactividade de acetilcolina.

    Assim, o primeiro tratamento é à base de drogas chamadas anticolinérgicos: que diminuem a acetilcolina e restabelecem o equilíbrio da dopamina.

    Mais tarde, pode ser prescrita amantadina (anticolinérgico fraco e com poucos efeitos secundários), que tem ligeiras propriedades de libertação de dopamina, o que eleva os níveis de dopamina.

    De seguida, prescrição de medicamentos que se assemelham à dopamina, porque provocam menos movimentos convulsivos e contractivos que a levodopa, a droga mais usada para combater a doença. Contudo, nos primeiros 3 ou 4 anos, a maioria dos doentes necessita mesmo de levodopa. A levodopa é transformada em dopamina activa.

    Tratamentos “neuroprotectores”: ainda não existem. Num estudo recente, comparou-se a co-enzima Q10 com placebo e mostrou-se que os doentes tratados com a co-enzima chegavam ao fim do período de seguimento com pontuações significativamente inferiores na escala de medição dos sinais e sintomas, sem evidência de que existia um efeito de controlo dos sintomas a curto prazo. Este é um bom indício de que possa existir um efeito neuroprotector, mas são necessários estudos maiores.

 

    DROGAS ANTICOLINÉRGICAS:

    Estas drogas são muito importantes para tratar os tremores iniciais e a rigidez, mas não são tão potentes como a levodopa para tratar a lentidão, o congelamento e as quedas. São eficazes no controlo da salivação e da baba, pois causam secura na boca. As drogas anticolinérgicas são especialmente úteis nos estados de parkinsonismo provocados por drogas.

    O equilíbrio entre a dopamina e a acetilcolina no cérebro pode ser restabelecido por uma droga que bloqueie os receptores de acetilcolina (uma droga anticolinérgica) ou por uma droga que aumente os níveis de dopamina.

 

    DROGAS DE LEVODOPA:

 

    Drogas de levodopa são as drogas preferidas para o tratamento da doença de Parkinson numa fase já avançada ou ainda moderada. A rigidez, a lentidão, a postura e os tremores melhoram com as drogas de levodopa. Os seus efeitos benéficos podem ser menos marcantes em doentes mais idosos e nos que já têm a doença há muito tempo, pois tais pacientes podem ser incapazes de tolerar as doses adequadas para controlarem os seus sintomas. Começa-se o tratamento com uma dose pequena e vai-se aumentando gradualmente até à dose mínima necessária para controlar aceitavelmente os sintomas e incapacidades.

    Efeitos secundários: Após um ou dois anos, alguns doentes começam a ter movimentos anormais convulsivos e contractivos ou contorcidos. Ocorrem depois de ser tomada a droga quando os níveis de dopamina no cérebro atingem o máximo.

Outros efeitos secundários importantes são perturbações mentais, tais como confusões, desorientação, falhas de memória e de concentração.

 

    Fase de “presença” – ocorre no pico da dose e o paciente tem mobilidade e independência, mas tem, muitas vezes, movimentos anormais discinésicos.

    Fase de “ausência” – surge um congelamento repentino, os pés colados ao chão e imobilidade, por vezes com uma sensação de medo e pânico.

 

Os doentes podem passar repentinamente de uma fase para a outra!

 

    DROGAS SEMELHANTES À DOPAMINA:

 

    Costuma-se administrar estas drogas numa fase inicial, antes de levodopa, porque elas causam menos discinesia e pensa-se que pode atrasar o aparecimento de discinesias de levodopa e das flutuações do estado mental. Esta droga estimula ou excita os receptores de dopamina para uma maior actividade. Começa-se com doses pequenas e vai-se aumentando até que os benefícios sejam aparentes e não haja efeitos secundários indesejáveis.

    São drogas fortes que reduzem todos os sintomas da DP, mas os seus efeitos secundários podem ser graves. Causam, principalmente em pacientes com idade superior a 70 anos de idade, complicações psiquiátricas fortes com confusão, delírios e comportamentos agressivos.

 

    PARAGEM TRANSITÓRIA DAS DROGAS:

 

    O objectivo da supressão é que seja feita uma tentativa para tranquilizar ou restabelecer os receptores de dopamina que foram excessivamente aumentados pela levodopa e outras drogas, e libertar o cérebro de possíveis produtos tóxicos dessas drogas.

 

    TERAPIA DE GENES:

 

    A introdução de genes funcionais no cérebro dos doentes de Parkinson pode ser útil ao substituir um gene defeituoso. O objectivo é introduzir uma proteína que evite a destruição das células e restabeleça o trabalho de uma célula deteriorada, ou a liberte de um neurotransmissor deficiente. Esta terapia tem-se expandido no sentido de provocar o desenvolvimento das células nervosas intensificando a sua função e impedindo a sua morte.

 

    CIRURGIA:

 

    Apesar de poucas operações serem feitas, continuam em curso pesquisas sobre novos tratamentos cirúrgicos.

    A cirurgia consiste na destruição de determinadas zonas do cérebro (cirurgia estereostática) ou transplante do tecido produtor de dopamina no cérebro.     Além disto, existe ainda a cirurgia de estimulação cerebral profunda.

    A selecção de doentes cumprindo os critérios de diagnóstico para a DP, e com pelo menos cinco anos de doença para permitir a exclusão de outras formas de parkinsonismo, baseia-se fundamentalmente na idade, na incapacidade provocada pela doença, na resposta à levodopa e na avaliação neuropsicológica.

 

    CÉLULAS ESTAMINAIS: 

 

Cientistas europeus descobriram como transformar, em laboratório, células embrionárias em neurónios do córtex cerebral, abrindo novas perspectivas para a investigação médica sobre doenças neurológicas. Esses neurónios, gerados totalmente fora do cérebro, foram depois transplantados para cérebros de rato. Passado algum tempo, foi possível ver que os neurónios se ligaram ao cérebro. Desta forma, demonstrou-se que os neurónios são funcionais e que possibilitarão a realização de transplantes intracerebrais contra doenças degenerativas.

 

    OUTROS TRATAMENTOS:

 

    O tratamento à base de drogas é a medida mais importante para alterar os sintomas e incapacidades da DP, mas há muito mais a fazer que unicamente a administração de drogas.

 

    Além dos tratamentos referidos anteriormente, existem cuidados especializados a ter consoante as necessidades de cada doente, tais como: fisioterapia, terapia ocupacional, terapia da fala e alimentação.

Dando ao doente a sensação de controlo sobre a doença, aumenta a dependência sobre o médico e sobre a abordagem farmacológica.

 

    FISIOTERAPIA: Tem um efeito para elevar a moral, persuadindo o doente que algo está a ser feito e que ele está a ter um papel activo no tratamento.

    Os exercícios e actividades físicas são importantes, pois imobilizam as articulações e músculos, diminuem a rigidez e melhoram a postura.

    TERAPIA OCUPACIONAL: Os terapeutas fazem um relatório para o médico descrevendo os problemas específicos e a necessidade de aparelhos, de modo a facilitar a actividade do doente e dando-lhe liberdade.

    TERAPIA DA FALA: A terapia da fala ajuda a exercitar a voz e o discurso do paciente, avaliando e examinando o modo de respirar, mover os lábios, a língua e os maxilares ao falar.

    ALIMENTAÇÃO: Os doentes não necessitam de uma alimentação especial, mas devem tentar que esta seja equilibrada, pois as proteínas existentes no estômago e intestinos podem interferir com a absorção de determinadas drogas na corrente sanguínea.

 

 

 Referências bibliográficas:

  

1.     Levy, Alice; Ferreira Joaquim. Manual Pratico da Doença de Parkinson.

2.     Pearce, Dr. John. Doença de Parkinson, 22-74, (1999)

3.     Aarsland, D. Marsh, L. Schrag, A. Neuropsychiatric symptoms in Parkinson's disease, Mov Disord (2009), Vol 24 (15): 2175-2186.

4.     Earhart, G. Dance as therapy for individuals with Parinson’s disease, Eur J Phys Rehabil Med (2009), 45: 231-8. Acedido a 11/09/10, em: https://www.minervamedica.it/en/journals/europa-medicophysica/article.php?cod=R33Y2009N02A0231